sábado, outubro 14, 2006

O belo país burocrático

Esta semana lá consegui ultrapassar o inferno que é a inscrição no Mestrado em Engenharia Informática na FCUL.
Precisei de dois dias, não a tempo inteiro, para efectuar de facto a inscrição devido a um conjunto de factores que irei enumerar.

Quantos mais serviços melhor:
Para efectuar a inscrição tive que passar por 5 serviços. Tive que ir à secretaria do meu departamento, à secretaria central, à tesouraria, ao serviço de pós-graduações e mestrados, e ao local da inscrição propriamente dito.

Burocracia sem papel não é burocracia:
A quantidade de papel é simplesmente absurda.
Para começar, tive que ir buscar a folha de pré-inscrição nas cadeiras que tinha ficado no meu departamento científico.
Recebi, na pasta de inscrição, três blocos de folhas a preencher, uma para a inscrição, outra para a faculdade e outra para a direcção de ensino superior (ou algo do género). Três folhas que perguntam detalhes como rendimentos da família, empregos anteriores, tempo de deslocamento, e que por pouco não perguntam pelo tamanho, peso, cor preferida, com qual pé acordamos...
Mas o pior é que mais de 80% dessas folhas perguntam pelas mesmas informações. Não seria possível as instituições partilharem entre si as informações? Ou são um bando de crianças mimadas que não confiam umas nas outras?
Para estas folhas, ainda temos a folha de comprovativo de conclusão da licenciatura, folha do seguro escolar, comprovativo do pagamento da propina, comprovativo do pagamento da inscrição, e talvez mais algumas de que me esteja a esquecer.

Tesouraria sem multibanco:
Parece um contra-senso, mas é verdade, uma das formas de pagamento mais usada hoje em dia, o dinheiro plástico, não pode ser usado na tesouraria, sítio onde se movimentam grandes quantidades de dinheiro para inscrições e propinas.
A solução? Levar cheques ou andar por Lisboa com uma placa colada na testa a dizer "Assaltem-me!!!".

Faltam X senhas para ser atendido:
O normal nesta coisa dos serviços são as bichas intermináveis. Depois de se tirar o pedaço de papel obrigatório, quase que temos uma paragem de coração só de pensar no tempo que vamos estar à espera.
Resumindo, para pagar a inscrição estive não menos do que 1h à espera. Pouca coisa.

Serviços com horários incompatíveis:
Quando serviços são interdependentes, seria de pensar que fizessem, pelo menos, um esforço para compatibilizar os seus horários.
Mas não! A secretaria central fecha às 15h, mas funciona ininterrupto, enquanto que a tesouraria fecha das 12h às 14h e depois só volta a encerrar lá para as 16h30.
Como decidi ir à tesouraria, depois de almoço, para pagar a inscrição, esta só abria às 14h, demorei mais de uma hora lá, e já estão a ver o resultado. Secretaria central? Só no dia seguinte...

Desconfiança entre serviços:
Já no momento da inscrição, foi-me pedida o comprovativo da conclusão da licenciatura, que é uma folha toda "catita", com um papel especial e com daqueles brilhantes tipo as notas de euros. Até aqui tudo normal.
O que achei surpreendente, foi o facto de eles telefonarem para a secretaria central, acho eu, a verificar a sua autenticidade.
Se é para estar em eterna desconfiança, não percebo o motivo de se esforçarem a fazer uma folha tão trabalhada.

Labirinto burocrático:
Qualquer assunto que se tenha que resolver só tem piada se nos obrigar a passear bastante e a falar com dezenas de pessoas.
O início da minha viagem burocrática iniciou-se com a busca da listagem das cadeiras para o mestrado, no meu departamento. Segui-se o pagamento da inscrição e levantamento da pasta de inscrições com aquele molho de papéis em quadruplicado, ou algo do género, e preencher três vezes a mesma informação.
E visto que a tesouraria não tem multibanco, tive que ir à secretaria central para pagar a primeira mensalidade da propina, mas como isso seria fácil de mais, tive que ir à secção de pós-graduações e mestrados para perguntar qual era o valor de primeira prestação da propina visto que na secretaria não sabiam.
Para concluir, lá me dirigi ao sítio das inscrições onde programas com interfaces crípticas davam-me a sensação que deveria tirar um curso só para as entender.
E com isso a minha saga chega ao fim.
Quase...

Como tinha a carta do abono de família comigo, aproveitei para passar pela secção de pós-graduações e mestrados para que esta fosse carimbada.
Aí, uma das senhoras dessa secção alertou-me para o facto de que não me tinha inscrito na dissertação do mestrado. De seguida seguiu-se um momento à Gato Fedorento, "A dissertação?", "Qual dissertação?", "A dissertação?"...
Mesmo depois de lhe ter explicado que, no caso do meu curso, o mestrado funcionava de forma diferente, a dissertação é substituída pelo projecto. Ela lá me deixou plantado por uns momentos enquanto foi conferenciar com alguma superior.
No final de contas, quem tinhas razão? Julgo que a resposta é evidente.

Será só impressão minha ou essa necessidade que controlar tanto os procedimentos através da burocracia não será uma das grandes culpadas pela perda de eficiência do nosso país?
No final de contas, perdi dois dias...

4 comentários:

Sarita disse...

Bem-vindo a Portugal ;-) Ao menos na tua faculdade enviam-te para pessoas que saibam, ou pelo menos tentam saber, na minha escola nem isso =S Enfim, resta-nos perder dias e enfrentrar a burucracia de cabeça erguida (pelo menos conheceste imensa gente =P)

Bjs, Sara

fTrocato disse...

LOL... Eu tratei tudo em menos 2 horas.. Cheguei à faculdade por volta das 10h30 e mais ou menos ao 12h30 estava a almoçar... Fui directo ao departamento buscar a "folhinha verde" (como se diz no departamento), depois tesouraria (já com um cheque -> €510), por fim C3 preencher a dita resma de papelada, inscrever no Pc, carimbar o abono e actualizar o cartão... 2 dias? eu nem sequer fui à secretaria...

Abraço, Filipe Trocato!

Diana disse...

Ou tens a mania que és vitima do sistema (e não só) ou andas com mais tempo do que queres demonstrar, para perderes tanto tempo a escrever tanta coisa sobre tao pouco...
Vai trabalhar, oh mouro =P

TS disse...

andas pouco iludido andas