sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Despenalização ou Desinformação?

Está já, no virar da trincheira, o termino da campanha para a despenalização do aborto.
Nestas últimas semanas, os confrontos entre as brigadas do Sim e os regimentos do Não têm sido particularmente violentos. Provavelmente fruto do desespero do aproximar da data da decisão. E todos sabemos que desespero traz consigo medidas desesperadas.
E desesperadas são-no de facto!

Das várias tácticas e armas usadas, duas destacam-se em particular: a ameaça e a desinformação. Apesar do seu uso ser mais notório nos partidários do Não, não significa que estas armas não sejam também empregues pelo Sim.

Ouvir que, se o Não passar, a União Europeia iria aplicar sanções a Portugal; ouvir que os católicos que votassem Sim seriam excomungados; comparar aborto ao terrorismo. Francamente... Terei eu adormecido enquanto o mundo regressou à Idade Média?
A existência do referendo destina-se a que os cidadãos ponham em prática as suas liberdades; não é para a seguir se semear medos e ameaças nas mentes das pessoas.

Outro ponto que me tem irritado, solenemente, tem sido a forma como a informação tem sido modelada, usada e abusada. Já Benjamin Disraeli dizia: "There are three kinds of lies: lies, damn lies, and statistics". Nos tempos que correm, não poderia ser mais verdade.

Para começar, a maior desinformação de todas. Este referendo é sobre, e cito, "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?". Não é sobre se o aborto será feito em hospitais e com comparticipação do estado, em hospitais privados ou em qualquer outro cenário folclórico. Sejamos sinceros quando argumentamos o nosso ponto de vista.

Tenho-me também deparado com uma série de informações disparatadas (ao ponto de acabarem por ter uma certa piada), dados distorcido "ao gosto do freguês", e afins.
Já se disse, por ai que 50%, das mulheres já fizeram um aborto. Isto ou é cómico ou insultuoso. Isso significaria que entre tias, avó e mãe, pelo menos duas delas já o teriam feito. E aquela rapariga que se sentou hoje ao meu lado no comboio. E a vizinha. E ... Por favor!

Mais, num panfleto vi relacionarem o crescimento, nos Estados Unidos da América, da criminalidade das mulheres com o número de abortos. Esta relação não será algo exagerada? As causas socio-culturais não terão tido mais impacto?
Desde 1960 (o primeiro ano presente no gráfico), a emancipação da mulher, a sua entrada no mercado de trabalho, a competição em ambientes antigamente controlados exclusivamente por homens, o acesso a posições de poder não terão tido mais impacto na sua criminalização do que o aborto? Sem querer parecer machista - que não é de todo a minha intenção - mas em 1960 a posição predominante da mulher era em casa, o que não é tão propício ao crime como querem dar a entender.

E para concluir, que o texto já vai longo, percebo que os partidos queiram assumir a sua posição no referendo, mas por momentos, parecia que nos encontravamos, novamente, em campanha legislativa.
Seria bom que os partidos entendessem que, mais do que uma batalha partidárias, este referendo apela aos valores do individuo. Por uma vez, esqueçamos o nosso espírito de carneirada e usemos a nossa cabeça. Só a nossa.

Debitado tanto texto, quero frisar que a minha posição neste assunto - e neste momento - é irrelevante. Já demasiadas escolhas foram apresentadas e justificadas. A minha só seria isso, mais uma.
O importante é que se tenha presente no que se vai votar: A despenalização, ou seja, decidir se é mais importante a vida intra-uterina ou a liberdade e dignidade da mulher.

Vote Sim ou Vote Não (ou em Branco) mas Vote.


PS: Reparei agora que já é oficialmente Sábado, dia em que supostamente não se pode fazer campanha. Este post poderá fazer com que seja perseguido pela justiça, infelizmente não tenho nenhum militar da GNR para me proteger.
Espero que pelo menos tenham o bom senso de reparar que este post não pretende apoiar nenhuma das facções. E é nesta última frase que está a minha salvaguarda jurídica =)

2 comentários:

Rogério disse...

ehehhe, nao te preocupes com o militar da GNR, i got u covered!

Bom texto, com uma visão coerente e "vacinada" da desinformação que corre por todo o lado, talvez na tentativa de manipular alguns votos.

Anónimo disse...

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